(Re) invenção do ofício: criar ou renomear carreiras pode ajudar no mercado de trabalho

Patrícia Santos Dumont
pdumont@hojeemdia.com.br
25/10/2018 às 12:59.
Atualizado em 28/10/2021 às 01:25
 (Lucas Prates)

(Lucas Prates)

Num mercado saturado e sempre ávido por novidades, se reinventar ou mesmo reinventar profissões pode fazer a diferença entre o desemprego, a mesmice e o sucesso. Na hora de “vender o próprio peixe”, descobrir o que te faz ser único ou ao menos diferente da concorrência aumenta as chances não só de atender às demandas que surgem dia após dia em ritmo acelerado como de se dar melhor e, definitivamente, conquistar um lugar ao sol. 

Sendo assim, você pode até nunca ter ouvido falar num hacker ético, num gestor de qualidade de vida ou num empreendedor serial. Mas são, digamos, novas roupagens para carreiras “antigas” e devidamente repaginadas. 

Caminho semelhante parece trilhar o RP (Relações Públicas), profissional responsável por definir estratégias e executar ações para melhorar o negócio e o posicionamento de uma empresa. Sites especializados em carreiras apontam agora o “gestor de comunidade” como a nova figura responsável pela imagem de um empreendimento. Alguns, inclusive, já possuem profissionais focados na “nova” função. 

Foi de olho nesse movimento, acompanhando as mudanças no mercado de trabalho, que, depois de mais de 20 anos de experiência nas áreas de comunicação social, gestão de pessoas e comportamento humano, Patrícia Lisboa resolveu mudar de profissão, ou melhor, rebatizar a que já executava.

Expert em investigar o perfil do cliente, descobrindo potencialidades pessoais e profissionais e ajudando-o a traçar um novo caminho, ela decidiu se autodenominar hacker comportamental e head trainer. “Hacker é a pessoa que sabe muito sobre determinada coisa, que encontra caminhos ou que os traça. Já o head trainer carrega o conceito de mente, de treinar habilidades”, explica. 

Ela reforça que as novas nomenclaturas são uma estratégia para se diferenciar. “É uma forma de me posicionar e despertar no cliente o seguinte pensamento: ‘poxa, o que será que encontro nesse profissional que irá hackear meu comportamento?’”, comenta, mencionando que um dos objetivos da reinvenção é instigar a curiosidade dos possíveis clientes.

Cautela

Head (líder ou gerente de departamento) da Upside Advisory – braço da Upside Group, empresa de Belo Horizonte especializada em gestão de capital humano –, Gilvan Silva diz que é preciso cautela para adotara a tática, seja reinventando o nome da própria profissão ou aderindo ao que foi rebatizado por alguém.

“Quando se define melhor a área de atuação, fica mais fácil de o cliente entender o que esperar daquele profissional. Da mesma forma, cria-se um direcionamento melhor daquela carreira no mercado e redes sociais”, afirma. 

Ele ressalta, porém, que as escolhas devem ser criteriosas e baseadas nas necessidades de mercado, sob pena de o profissional acabar esquecido ou tornar-se ainda menos demandado. 

Somente três áreas de atuação são reconhecidas no coaching

Quando o assunto são as derivações do coaching – metodologia de origem inglesa, bastante difundida no Brasil e que arrebanha adeptos dia após dia –, o terreno fica ainda mais delicado, adverte a especialista em inteligência emocional Tália Jaoui, que já formou mais de 3 mil coaches ao longo da carreira. 

Segundo a profissional, que atua em São Paulo, designações como coach de emagrecimento e espiritual, por exemplo, são formas criativas de setorizar a atividade, mas, em certo ponto, duvidosas quanto à originalidade da profissão de coach. 

“O grande problema é que o método coaching foi muito deturpado com o passar do tempo. O professor da academia, por exemplo,pode se denominar um coach no sentido literal da palavra, que significa treinador em português. No entanto, se não aplica a metodologia do coaching, não atua como coach profissional. Aí começa a bagunça”, afirma a especialista, master head coach trainer e fundadora da Dhuma T&D.

Segundo ela, instituições também pecam ao assumir nomes como os mencionados simplesmente como estratégia para alavancar vendas de cursos. “Só pode ser chamado de coach o profissional treinado, que estudou, e que está apto a apoiar o cliente para atingir determinada meta sem aconselhá-lo, ensiná-lo ou induzi-lo”, reforça.

Três áreas

Master coach senior e trainer, embaixadora do International Business Coaching Institute (IBCI) e fundadora do Instituto Excelência Gestão & Coaching (IEGC), em BH, Renata Lemos lembra que há somente três grandes áreas reconhecidas atualmente no coaching: life coaching ou coaching de vida, businnes coaching ou coaching empresarial e executive coaching ou coaching executivo.

“A proliferação de muitos nichos, nomenclaturas e a falta de seriedade e profissionalismo de alguns profissionais que usam a denominação de coach impactam diretamente na credibilidade da metodologia. Desta forma, é imprescindível antes da contratação conhecer o histórico do profissional e pedir referências”, destaca, frisando que tão importante quanto a formação em coaching, que deve ser atestada, é a experiência e a formação acadêmica do profissional. 

“Considerar o histórico, a experiência e a formação é importante em qualquer cenário e profissão. Detecta-se o que é ou não enganação” - Gilvan Silva, head da Upside Advisory

Além disso:

Mais da metade das crianças terão, no futuro, carreiras que, hoje, ainda não existem. Pesquisa realizada pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) mostra que 65% delas irão atuar em áreas que ainda serão criadas. O motivo, conforme o levantamento, é a flexibilidade e a autonomia que serão adquiridas pelas profissões com o passar dos anos, sobretudo em função do avanço tecnológico. Graças às novas ferramentas, tarefas repetitivas, mecânicas, dispensarão mão de obra humana, abrindo caminho para que os profissionais, cada vez mais especializados, passem a atuar em posições estratégicas.

Especialista em gestão de carreiras, hunting e vice-presidente da Thomas Case & Associados, consultoria com mais de 40 anos de atuação na gestão de carreiras e RH, Fátima Trindade explica que essas mudanças exigem atualização em práticas e tendências. “É uma questão de se ajustar para responder rapidamente ao que é esperado das empresas, sejam elas startups ou não. Assim como algumas profissões surgem, tais como desenvolvedor de software, especialista em experiência de usuário/cliente e digital influencer, outras ganham roupagem nova, caso dos profissionais de TI e dos engenheiros”, acrescenta a especialista. 

Está prevista para novembro a divulgação de uma nova lista de profissões que devem surgir nos próximos anos, conforme levantamento realizado pela norte-americana Cognizant, consultoria de tecnologia com mais de 20 anos de atuação.

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