Julgamento hoje

'Ferida continua aberta', diz esposa de uma das vítimas da Chacina de Unaí

Gabriel Rezende
grezende@hojeemdia.com.br
24/05/2022 às 08:41.
Atualizado em 24/05/2022 às 09:14
 (Gabriel Rezende/Hoje em Dia)

(Gabriel Rezende/Hoje em Dia)

O novo julgamento do ex-prefeito de Unaí Antério Mânica, acusado de ser um dos mandantes da chacina de Unaí, começa nesta terça-feira (24) em Belo Horizonte. Elba Soares da Silva, esposa de Nelson José da Silva, um dos auditores mortos no ataque, foi uma das primeiras a chegar em frente ao prédio da Justiça Federal, no bairro Santo Agostinho, na região Centro-Sul da capital.

Ela espera uma pena pesada, que seja o mesmo resultado do julgamento de 2015, quando Mânica foi condenado a 100 anos de prisão, acusado de ser o mandante dos assassinatos, ocorridos em janeiro 2004. 

“A sensação é a ferida que continua aberta. Não teve um desfecho. É muito triste. A gente passa a não confiar na Justiça e fica com a sensação, a certeza de impunidade. As famílias querem que ele saia com a mesma condenação que ele teve e que cumpra a pena”, afirma. 

Segundo ela, o júri representa um recomeço para as famílias das vítimas. “Esse julgamento para nós representa um fim, um sepultamento, para recomeçarmos nossa vida, porque até aqui nossa luta é diária”, completa. 

Nesta manhã, familiares e amigos se reuniram em frente ao prédio da Justiça Federal em manifestação, antecedendo o julgamento. Veja abaixo galeria de imagens.

Chacina 

O crime ocorreu em 28 de janeiro de 2004, quando os auditores João Batista Soares Lage, Nelson José da Silva e Erastótenes de Almeida Gonçalves e o motorista Ailton Pereira de Oliveira foram assassinados com tiros à queima-roupa, após uma emboscada. 

Quando assassinados, os três auditores investigavam denúncias de trabalho escravo que estaria acontecendo em fazendas da região. A morte dos três provocou mobilização política e social na época e, em homenagem às vítimas, a data dos assassinatos foi transformada em “Dia Nacional de Combate ao Trabalho Escravo”.

As primeiras prisões envolvendo o caso só aconteceram em 2013, uma década após os assassinatos. 

Na ocasião, três pessoas — Rogério Alan, Erinaldo Silva e William Gomes — acusadas de serem “pistoleiros”, foram condenadas a penas que, juntas, somam 226 anos de prisão.

O ex-prefeito de Unaí Antério Mânica e o irmão dele, Norberto, dois grandes produtores de feijão da região, foram apontados pelo Ministério Público Federal (MPF) como mandantes do crime.

A sentença deles saiu em 2015, com cada um condenado a cumprir 100 anos de prisão. Apesar de o MPF pedir a prisão imediata dos réus, a Justiça permitiu que ambos recorressem em liberdade.

Em 2018, no entanto, uma reviravolta mudou os rumos do processo. O Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF-1) anulou a condenação de Antério Mânica com o argumento de que não havia provas suficientes. 

"Os que mataram (os fiscais) estão presos. Não se pode falar que tenha impunidade nesse caso. Contra Mânica não se tem nenhuma prova", disse o advogado do ex-prefeito, durante a sustentação oral na sessão que reviu a condenação.

Em virtude da anulação, o ex-prefeito terá que ser submetido a novo julgamento, que começa hoje. 

Na época da anulação, Norberto Mânica, que também recorre em liberdade, prestou depoimento e sustentou ser o único mandante do crime, inocentando o irmão.

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