POLÊMICA NA PAMPULHA

UFMG vai tentar negociar mudança de local da Stock Car e não descarta ir à Justiça

Instituição teme impactos ambientais e também dificuldade de acesso de professores, alunos e funcionários ao campus universitário

Angel Drumond
esportes@hojeemdia.com.br
27/02/2024 às 20:31.
Atualizado em 27/02/2024 às 20:31
 (Foca Lisboa)

(Foca Lisboa)

A UFMG tentará negociar com a Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) e com os organizadores da Stock Car a mudança de local do evento. Marcada para agosto, a prova de automobilismo foi anunciada para acontecer no entorno do Mineirão, na Pampulha, mas eventuais impactos da competição, como danos ambientais e sonoros, vêm causando polêmica na capital. A reitora da universidade, Sandra Goulart, diz ver no diálogo com o Município e com os responsáveis pela competição a possibilidade de um meio-termo, mas não descarta acionar a Justiça se necessário.

“Na universidade, acreditamos que o diálogo deva prevalecer em todas as situações. Já solicitei ao prefeito (Fuad Noman) uma reunião. Nós estamos conversando, mas se a conversa não for suficiente, vamos buscar outras formas para a resolução para que a gente possa ser ouvido neste pleito”, disse a reitora.

Segundo Sandra Goulart, a realização do evento nos arredores do estádio, em área vizinha ao campus da UFMG, poderá trazer severos impactos ecológicos e ambientais para a instituição.

“O evento vai acontecer praticamente no meio do campus da UFMG. De um lado nós temos o CEU (Centro Esportivo Universitário), na frente do Mineirão. Do outro, uma parte do campus ligada à saúde. Naquela área, ficam os biotérios (espaços de criação de animais), de frente para o estádio, e que precisam sempre estar em condições específicas, seja de controle, de temperatura, de ambientação”, destaca. 

Hospital universitário

De acordo com a reitora, o reflexo maior será em relação ao Hospital Veterinário da UFMG.

"A única entrada para a Escola de Veterinária fica justamente ali, na frente do Mineirão, e isso (acesso) ficará inviabilizado durante a semana do evento. Então a comunidade não vai poder acessar o Hospital Veterinário, não vamos ter como colocar animais nesse período. O Hospital Veterinário é uma área hospitalar, e é considerado por todas as regras de construção de hospitais como área hospitalar”, acrescenta.

Outra dificuldade apontada será na circulação dos próprios professores, funcionários e alunos da UFMG, que juntos chegam a 60 mil pessoas por dia. 

“O acesso será restrito. As entradas da avenida Abrahão Caram e do hospital estarão comprometidas, e mesmo a entrada da Catalão também ficará por causa do trânsito e tudo que será realizado nos dias do evento. Portanto, vai afetar todas as ações de ensino e de pesquisa. Eu sou porta-voz da minha comunidade, são 60 mil pessoas que de fato são contra a realização deste evento por essas razões”.

Impacto ecológico

Na semana passada, o Conselho Municipal do Meio Ambiente (Comam) aprovou o corte de 63 árvores no entorno do Mineirão para a realização da Stock Car. Segundo a empresa responsável pelo evento, serão plantadas outras 688 como medida de compensação.
Sandra Goulart alerta que a UFMG sequer foi consultada sobre a decisão.

“É um impacto ambiental seriíssimo para a região. Nós já tivemos alguns cortes de árvores quando aconteceu a reforma do Mineirão, então aquela é uma região, de certa forma, árida, e a UFMG é um espaço de preservação ecológica. Nós temos uma estação ecológica dentro da UFMG, que margeia a avenida Catalão, e que tem animais de todas as espécies que também sofrerão com isso. Nós não fomos consultados sobre o corte das árvores, quando nos trouxeram a questão estava tudo decidido”, diz.

Outra preocupação da reitora é com a poluição sonora causada pelo evento. O temor é o de que o som emitido pelos carros da Stock Car afete a fauna local.

“É pior para os animais do que para os humanos. Nós fomos procurados pelos organizadores, que estão propondo fazer uma barreira acústica, mas não sabemos se é viável, e tem que ser aprovada pelos órgãos da universidade. Ela não vai resolver todos os problemas que vamos enfrentar neste evento. Não vai se resolver isso simplesmente com uma barreira”. 

 (Portal da Copa / Reprodução)

(Portal da Copa / Reprodução)

Nova audiência

A reitora, que está fora do país e não participou da audiência pública sobre o tema no início da semana, afirmou que um novo debate está marcado para 29 de fevereiro na Assembleia Legislativa de Minas Gerais. 

Em nota divulgada na segunda-feira (26), a organização da Stock Car em BH informou que a realização da prova tem como pilares "sustentabilidade, inclusão e segurança" e que o Mineirão e o entorno foram escolhidos após “diversos estudos de engenharia e impactos”, não havendo outro local em BH "que se adeque às especificidades técnicas da Stock Car”.

Segundo os responsáveis pela prova, estão sendo planejadas “medidas para mitigar o impacto sonoro do evento, com a instalação de barreiras acústicas no circuito, principalmente próximo à UFMG”.

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